quinta-feira, fevereiro 01, 2018

ANTUAK IN MEMORIAM


ANTUAK IN MEMORIAM

Madrugada de lua cheia, a lua brilhava intensamente no firmamento, enquanto na Terra a mais bela e brilhante estrela se apagava, um olhar que outrora brilhou com o tom mais lindo e delicado de um imenso céu azul.

Pela manhã ainda deitada no chão ao seu lado, lhe falei de todo meu amor, mas que não queria que sofresse mais, que estava livre para partir, que eu daria qualquer coisa para que sua saúde fosse restaurada eu sabia que seria quase impossível, mas sempre temos esperança.

Ele me olhou levantou levemente o corpo e caiu na cama.

O embrulhei em um cobertor e caminhei pelo quintal conversando com ele, lhe contei meus sonhos mais profundos, como queria poder tê-lo visto correndo pelo quintal livre e feliz juntamente com seus irmãos.

Com ele ainda no colo sentei-me na varanda e fiquei relembrando o primeiro dia que os vi, das incertezas se eles iriam ter um bom lar com amor e segurança.

Estava com um mês de vida um dia cheguei no quartinho ele estava encolhidinho em um canto, achei que não ia sobreviver, tinha um problema nos olhos que mesmo tentando tudo não sarava, entrei em desespero da possibilidade de vê-lo partir, mas cadê dinheiro para ajuda-lo, saí correndo atrás de um veterinário, como pagar? Depois eu vejo agora ele precisava de tratamento, e ele teve, foram dias de angústia e medo, eu olhava para os lindos e límpidos olhos azuis do Raphael e sonhava com os olhos do Antuak tão lindos e penetrantes quanto os do irmão.

E meus sonhos realizaram-se, ele tinha o olhar mais encantador e brilhante de que todos os gatos que tive.

Porém, hoje essa luz se apagou na Terra, mas vai permanecer brilhando em meu coração, em meu pensamento e na minh’alma.

Neste dia final passamos um dia relativamente calmo, toda hora ia virá-lo para não ficar muito tempo na mesma posição, conversava com ele, estava imóvel, o corpo não se movia parecia uma boneca de pano tinha que pegá-lo com cuidado, parecia que não tinha ossos.

Mas ao segurar em suas patinhas, ele abria as unhas e segurava meus dedos, estava consciente o tempo todo, quando lhe fazia carinho levantava a cabecinha para eu coçar seu pescoço e a testa, ele sempre adorou isso, quando acariciava sua testa fechava os olhinhos delicadamente, em geral estavam sempre abertos nos últimos dois dias.

No dia anterior ainda se alimentou através de uma sonda, porém, vomitou tudo com sangue horas depois, foram momentos de desespero incertezas e certeza que o fim estava próximo.

Durante todos esses dias dormimos no chão, forrava o quarto com edredons para que não tomasse friagem, pois saia cambaleando para tentar tomar água, a tigela de água era seu lugar preferido enquanto conseguiu andar ficava com a cabecinha recostada nela e a carinha dentro d’agua e com isso ia lambendo a água aos poucos.

Desde ontem não andou mais, por isso arrumei minha cama para nós, fiz uma “cama” mais alta para ele e deitei-me ao seu lado, estávamos cansados, são cinco dias sem dormir.

Deitei-me e fiquei conversando com ele, e ele segurava meus dedos com “força”, lhe contei uma porção de histórias, ou melhor, relembramos histórias então adormeci.

Iria levantar às 2h para lhe dar injeção, mas ele decidiu partir um pouco antes, e se foi ás 1h57minutos.

Estava cochilando de repente me sentei e passei a mão nele e vi que estava prestes a partir, quando o olhei começou a fazer um som estranho (nesses dois dias esteve em silêncio absoluto) percebi que a hora havia chegado, segurei suas patas e fui falando quase inaudível, vai querido, vai em paz, eu amo muito você e finalmente ele se foi em paz.

O fiquei olhando como se estivesse vendo um filme, sabia que a hora estava próxima, mas sempre achamos que podemos mudar as trapaças do destino. Amanhã (hoje) chegaria um remédio que traria um pouco de esperança, ele precisava fazer xixi, se fizesse teria uma chance.

Toda hora ia ver se havia feito e aproveitava para mudá-lo de posição. Mas não deu tempo, o tempo do tempo é muito diferente do nosso tempo.
O Antuak nunca havia saído do local onde viveu, quando o trouxe comigo para ser cuidado mesmo cambaleando e fraco andou pelo quintal miando, cheirando, “sentindo” tudo à sua volta, triste pensar que nunca pode correr por um quintal livre da dor e do sofrimento.

Resta-me um consolo, ao menos por meros minutos viveu livre em um quintal, sonho de seis anos de “prisão”.

Seis anos, jovem demais, estou sempre dizendo que vivem pouco, e vivem, mas o Antuak superou todos seus irmãos, viveu menos da metade dos seus irmãos que partiram.

Eu queria entender a “regra” do vir e ir deste mundo, o Antuak e seus irmãos chegaram a esse mundo de maneira cruel, chegaram em minha vida pelas vias do abandono.

Naquela manhã de setembro deparei-me com uma mãezinha e seus quatro filhos jogados dentro de uma caixa como lixo, ao seu olhar cruzar com o meu pedindo socorro, meu coração ouviu o chamado silencioso daqueles imensos e tristes olhos azuis, passei por cima de todas as dificuldades e os acolhi.

Foram momentos difíceis de medo, insegurança, mas de determinação, e nesses dias esses sentimentos afloraram quando eu olhava para o frágil corpo do Antuak, sem forças, olhar parado e distante e eu dizia: - você vai sarar você vai ficar bom.

Mas o destino é cruel, por mais que eu corresse contra o tempo para salvá-lo não consegui.

Durante esses longos e ao mesmo tempo breves seis anos, eu sonhava de olhos abertos, e os via brincando em um quintal felizes e em segurança, correndo atrás das borboletas, calangos pássaros etc.

Se de fato existe algo que “vela” por nós, gosta de brincar de esconde- esconde comigo, nunca permitiu que eles brincassem livres em um quintal.

Em meus devaneios, o Antuak sempre era o primeiro a sair correndo pelo quintal, pois tinha um espirito livre, tudo para ele era motivo de brincadeiras, uma pena o fazia pular e brincar horas com uma alegria cativante, eu o olhava extasiada.

Certa vez me disseram que eu gostava mais dele que dos outros, quem acha que se pode amar mais a um “filho” que aos outros não ama nenhum, amar vai, além disso.

Ficava às vezes mais evidenciado por ser alegre e amoroso sabia ser irresistível. Poucas pessoas os visitaram, porém, todos que os conheceram ficavam encantados com aquele gato gordo, de olhar cativante e que gostava de gente.

Ah! Antuak, quantas vezes eu sonhei em vê-los partir bem velhinhos, quantas vezes, fiquei pensando se viveria tempo suficiente para vê-los partir, pois a literatura diz que os siameses podem chegar a mais de vinte anos de idade, vivia calculando os anos para ver se havia possibilidade de estar aqui para esse triste momento, não imaginava que você partiria tão jovem e que deixaria mais essa dor em meu coração tão precocemente.

Envelhecer é acumular perdas, as materiais são transitórias as do amor e afeto são eternas.

Viver tem um preço muito alto, temos que ver quem amamos partir e ficarmos inertes e impotentes sem nada poder fazer.

Se existe algum lugar além deste mundo tão confuso, tão cruel em especial com os animais e especificamente com os gatos, espero que nesse momento você esteja correndo livre, em um mundo onde todos os seres têm direito a viver pela única razão de que se existe um Criador, somos todos um, não existe separação de raças, cor, espécie ou preferências desse suposto Criador e nesse lugar todos vivem em paz e harmonia, não há dor, abandono, maus-tratos, todos sabem que são um elo de ligação e todos vivem no amor e na partilha e com isso a vida flui, o Universo expande-se e todos se tornam de fato Um.

Não sei se isso existe, já acreditei, acreditei em anjos, mestres e que um dia a vida seria Una, hoje não tenho certeza de nada e o mais triste, me fica a sensação que somos meras peças de um tabuleiro de acasos, não faz diferença o quanto se ame ou o quanto seja indiferente com o sofrimento alheio ao final tudo sumirá como uma nuvem e nada restará.

Apesar das minhas incertezas quero continuar amando, sendo solidária, quero expandir meu coração para acolher os abandonados pela vida, em especial os animais, amá-los, socorrê-los não para ganhar um lugar em um céu imaginário, mas amá-los para tornar suas vidas em um “céu” na Terra, do que vale um suposto “céu” distante se na Terra o “inferno” é a lei para suas breves vidas.

Sejamos “anjos” e deus para todos os animais aqui e agora.
Não pude fazer tudo que sonhei para o Antuak, para sua mãe e irmão, porém, o pouco que pude fazer transformei nossas vidas em um céu de verdade.

Quando estava angustiada com a doença ou partida de seus irmãos, o Antuak se aconchegava ainda mais em meu colo, ele nunca conheceu esses irmãos, mas sabia que eu estava sofrendo por eles e fazia tudo para trazer paz para meu coração, então corria, brincava e me fazia sorrir.

Vida breve, breve dias, e agora só restam três, quando eu chegar naquele quarto daqui a pouco sempre faltará seu olhar e jeito brejeiro e vai doer, doer, doer, meu coração vai sangrar, mas tenho que prosseguir e continuar sonhando que posso tirar sua mãe e seu irmão da prisão onde vivem, você não consegui.

Eu gostaria muito de acreditar que vamos nos reencontrar e como aquela fábula da “Ponte do arco-íris”, você e seus irmãos, Juma, Uriel, Juca Raphael, Miguel Arcanjo e a Esperança estarão ao pé da montanha me esperando e nós correremos livres sobre a grama verde e leve esse encontro será eterno, sem separações, sem dor e sem sofrimento.

Desculpe-me não ter podido cumprir o que lhes prometi.

A primeira pessoa que conversei no dia, falei que era questão de horas para ele partir, porém, aguentou firme o dia todo e de madrugada se foi se foi no mesmo mês da Uriel.

O Antuak tinha a personalidade muito parecida com a da Uriel e no tempo em que ainda acreditava em “contos de fadas” eu me perguntava se não era ela que havia voltado para mim, ás vezes perguntava para ele, você é a Uriel? Ele me olhava com seus penetrantes olhos azuis como que respondesse que diferença faz? Estou aqui, isso basta.

E por ironia do destino sua doença e partida foi tão rápida como a dela, ele até deu sinais que podia estar com problemas por estar emagrecendo, porém, ela não deu tempo para nada.

O coração de quem ama percebe o perigo antes que ele aconteça quem não ama passa indiferente.

Por isso quando começou a emagrecer o levei ao veterinário, antes que a situação se complicasse, pouco adiantou, a doença e a partida do Antuak aconteceram coisas estranhas, encontramos veterinário indiferente que poderia ter mudado a história dele, encontramos veterinária “terrorista” que tentou colocar terror em minha alma, mas estávamos sendo ajudados por uma veterinária que ama animais e se preocupa com o paciente e o tutor.

Meu agradecimento especial a Dra. Andressa Mello que esteve presente mesmo à distancia me auxiliando profissionalmente e amorosamente, ontem ficou à minha “disposição” para tornar nossa vida menos triste. Gratidão Dê, você está sempre presente nas minhas perdas, me ajuda como excelente profissional que é e como amiga que cuidou dos demais que se foram por compaixão e amor. Sempre serei eternamente grata a você.

A Dra Andressa Mello assumiu o tratamento dele quando ainda havia uma tênue esperança de cura, tínhamos essa esperança, era jovem e forte, mas o destino é cruel até mesmo com os jovens e fortes.

Gratidão a Dra. Paula Ramos que ao ver meu desespero no Facebook também nos acompanhou carinhosamente.

Agradeço a minha amiga de todas as horas Cristiana Basan ( Procura-se Raja), já choramos tantas partidas, mas também já exultamos de alegria a cada conquista de cura em nossos filhos de 4 patas.

Gratidão a Sissi (MariaCecilia Melges de Carvalho) por estar comigo nesses dias de dor, mesmo á distância.

Gratidão a Cristina Altheia Bortoli que também esteve presente diariamente mesmo à distância.

Gratidão a Cidinha Morgão que abria todas as manhãs a janela para entrar ar e eles tomarem sol, eu e a Cidinha somos os humanos que ele mais viu em sua curta vidinha.

Agradeço a Vânia Marques pela ajuda e preocupação conosco, gratidão Vânia.

Agradeço a todos os amigos do Facebook que nos acompanharam e nos ajudaram orando, vibrando, mandando energias positivas e com isso tornaram nossa dor mais leve, nos fazendo sentir que não estávamos sós, em um mundo cercado de individualismo.

E finalmente gratidão ao Guilherme Franco que colocou telas na janela para eles viverem em segurança e nos ajudou financeiramente por muito tempo. Gratidão.

Acabei de enterrá-lo ás 18h30 embaixo daquela frondosa paineira onde estão o Miguel Arcanjo e a Esperança, está juntinho do Miguel.

*07-09-2011
+01-02-2018

História do resgate do Antuak e sua família

 “A morte nada mais é que uma despedida inesperada que não temos o poder de contestar ou evitar.”


Autor desconhecido

Últimos dias
Última foto já na madrugada do dia 01-02-2018
Último dia na Terra 31-01-2018
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Sem forças nem para levantar a cabeça 31-01-2018
Ficava assim recostado na vasilha tomando água 30-01-2018
Olhos sempre abertos 29-01-2018
A tigela de água nos últimos dias era seu "porto seguro"
Ainda prestava atenção em tudo, antes do soro 29-01-2018
Ainda conseguia caminhar cambaleando 29-01-2018
Tomando soro na clínica 29-01-2018
Ainda no quartinho, começando a perder as forças 28-01-2018
Em minha cama ainda se sustentando sentado  28-01-2018
Comendo patê, eu dando na boca 26-01-2018
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Aparentemente bem, comendo graminha 20-01-2018
Comia, brincava não aparentava problema algum 20-01-2018
Parecia bem, só o emagrecimento preocupava 20-01-2018
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Ainda na rua 07-09-2011, uma mãe heroína como centenas de mães do reino animal e mesmo humano.
Ainda na rua 07-09-2011
Antuak e Raphael, eles devem ter nascido na madrugada  de 7 de setembro de 2011, pois ainda havia placenta fresca na caixa, os jogaram na minha porta pois sabiam que eu iria acolhê-los, mas eu tinha tudo para não fazer  isso, pois não tinha onde abrigá-los.  07-09-2011