JÚPITER IN MEMORIAM
A gente sempre pergunta qual o sentido da vida quando estamos tristes, mas nunca quando estamos alegres. Outro dia ouvi um Ser dizer: “A vida não tem sentido, sei que vocês vão ficar desapontados, vocês que dão sentido a vida”, hoje realmente essa frase faz total sentido para mim.
Todos se foram depois de muito sofrimento, e eu estava presente segurando em suas patas, conversando para que partissem em paz, repetia que ia ficar bem que podiam ir embora tranquilos, porém, eles resistiam, agora tenho certeza que estavam preocupados comigo e fingiam que não estavam sofrendo para amenizar minha dor, me esqueci de que a sabedoria e sensibilidade deles é muito maior que a nossa.
Quando a Esperança se foi findava um ciclo dos cinco gatos que eu trouxera de São Paulo, iria ficar sem nenhum gato comigo, apesar de ter os siameses Lysnel, Raphael e Antuak, mas eles viviam longe de mim, era uma vida de amor e separação diária, mas apesar de tudo estávamos juntos.
Dois dias depois encontrei o Júpiter em uma noite fria de maio em uma avenida movimentada, ele devia ter no máximo dois meses, estava apavorado, tremendo, sujo e com marcas de maus-tratos, quando o peguei no colo ele se aninhou em meus braços.
Onde
eu morava não tinha autorização para levar outros gatos, por isso, quando a
Esperança se foi essa ideia me trazia
mais tristeza, iria ficar só, sem ter alegria
de conviver com outo gato.
Mas mesmo assim entrei na casa onde morava e pedi se eu podia ficar com ele, a pessoa disse não, tentei argumentar, porém, a resposta foi não, não, fui colocá-lo na rua novamente chorando e pedindo desculpas a ele. Voltei para a casa, de repente eu vi o dono da casa, e pensei em pedir a ele, mas em outra oportunidade também ouvi não, mas mesmo com medo fui pedir ele disse sim e eu chorando falava Deus lhe pague e sai correndo para buscá-lo, com muita dificuldade consegui pegá-lo, pois já estava correndo o perigo de cair em um bueiro, consegui pegá-lo. Ele já chegou quebrando paradigmas, quebrando barreiras de concreto duro, realmente não era um Ser comum.
Estava sujo de graxa, o limpei, alimentei e fomos dormir, naqueles breves momentos eu rejuvenesci, mas eu tinha muito para receber dele, o coloquei ao meu lado, porém, ele foi deitar na minha cabeça e ronronou por horas, uma imensa paz tomou conta de mim e dormi profundamente depois de muitos dias insone.
Quando acordei no outro dia eu estava transformada, aquela angústia que me acompanhava há mais de nove anos quando a primeira se (Juma) até a Esperança há dois dias, eu revia quase que diariamente o sofrimento final deles, por mais que me esforçasse em lembrar os bons momentos, o lado sombrio dos meus medos eram a nota primeira.
Quando acordei tudo aquilo tinha sumido, e assim foi por seis anos, minha vida mudou completamente em todos os aspectos desde o primeiro dia eu pressenti que ele seria o mensageiro da mudança em minha vida. Os desafios diários ficaram mais fáceis, e quando chegaram no limite, eu tomei uma decisão, quando tomei a decisão ele estava me olhando com seus olhos azuis cristalinos, só agora estou me dando conta disso, do que aconteceu naquele dia.
Agora percebo que aquele olhar me dizia: você vai conseguir, nós vamos conseguir, por isso estou aqui e conseguimos, graças a essa decisão aparentemente louca, nossa vida mudou, a Lysnel e o Raphael vieram morar conosco depois de 24 dias, depois de viverem oito anos e meio longe de mim, nossa casa, nosso paraíso. Enquanto a humanidade vivia apavorada naquele inicio de 2020 eu vivi (e vivo) os melhores momentos da minha vida, família reunida, liberdade para eles e para mim, eu estava livre principalmente de mim mesma, sabia que todos que todos os gatos que passaram por minha vida foram bênçãos, eu passei nove anos querendo saber o sentido da vida, agora eu sei quando dei um sentido a minha vida, ela mudou, e o Júpiter foi o mensageiro dessa verdade.
O Júpiter estava com gengivite, o levei ao veterinário, fizemos alguns exames e havia algumas alterações no exame de sangue e no ultrassom, fizemos o tratamento, quando repetimos os exames ele estava bem, até a creatinina que estava levemente alterada havia diminuída um pouco, as suspeitas de tríade felina, estava descartada, apesar das plaquetas estarem um pouco baixas, continuamos o tratamento.
Então, era hora de cuidar da gengiva, mas como da outra vez os remédios não surtiram efeito. Eu tive um gato (Juca) que sofreu com gengivite por dez anos (viveu 16 anos) sabia que o processo era complexo e nem sempre tem solução, porém, o Júpiter era jovem e eu tinha esperança que ele se curasse.
A veterinária sugeriu uma limpeza de tártaros, eu não os via, mas só podia ser eles que deixavam aquela ferida na boca dele, tinha dificuldade de comer, mas comia, pois não emagreceu nada durante o processo, então, era indicação que estava se alimentando o suficiente, mas tinha que tentar curá-lo.
Resolvi fazer o procedimento, a veterinária disse que seria simples e rápido, mas meu coração estava inquieto e vinha as vezes a sensação dele ir embora, mas é “natural” a gente se sentir assim por causa da anestesia, apesar de ser inalatória.
O procedimento foi á tarde, então passamos a manhã brincando, ele tem umas bolinhas que ele adorava, eu jogava e ele corria atrás com uma alegria contagiante. Aliás, nos últimos meses eu me sentava para estudar e ele pedia colo, se deitava em meu colo e eu ficava estudando, nos últimos tempos foi muito forte isso.
Ele sabia que estava terminado seu ciclo comigo e aproveitou o máximo que pode trazer muita alegria para mim com sua presença, assim como as brincadeiras com o Raphael, eram grandes amigos, desde o segundo dia que se conheceram.
Terminou o procedimento, viemos embora, quando foi passando a anestesia ele queria até passear pelo quintal, não deixei ainda, tudo indicava que estava bem, comeu churu, e eu estava confiante que ele ficaria bem.
De madrugada não estava bem, percebi que estava com febre, já entrei com os remédios, pela manha já o levei a clinica, mas acho que o diagnóstico estava errado, ele estava “vermelho” não era por alergia, mas foi medicado como fosse, já sentia muita dor, se não o tocasse fica bem, foi uma noite difícil, consegui baixar a febre com compressa de argila. Dormimos no chão para ele se seguir seguro, depois da febre baixar ele conseguiu dormir grudadinho em mim.
Mas pela manhã estava pior e novamente fomos ao á clinica, mas apesar das tentativas ele só piorava, estava desesperado de dor, inicialmente a veterinária falou em exames e ultrassom eu autorizei faça tudo se ele tiver uma chance, não tinha mais. Chegou uma hora que falei para a veterinária se ainda tinha uma chance, ela disse não, então pedi faça tudo que puder para ele não sentir dor e mesmo assim eu espero um milagre, ele tomou morfina, mas teve que tomar mais um pouco, pois a dor era terrível.
Ele sossegou, então o que me restava era segurar sua pata e o oxigênio e conversar com ele, conversei, conversei, relembrei nosso encontro e toda nossa caminhada juntos, o lembrei como ele me encontrou e agora estava indo embora, até perguntei: você veio com hora e dia marcados para me resgatar de mim mesma e agora já pode ir embora? Se assim for vá meu garoto, você fez um excelente trabalho em mim, nenhum ser humano conseguiu isso em mais de meio século.
E as 11:11 ele se foi, não sei se por estar sedado, foi tranquilamente, quando eu passava a mão nele durante todo o processo ele reagia, portanto, sabia que eu estava ali e estava me ouvindo, não teve a agonia que vi nos outros, depois que se foi parecia que estava dormindo com a cabecinha de lado, imagem que tantas vezes admirei enquanto ele dormia serenamente, havia paz em seu “sono” eterno.
Ele se foi de infecção hospitalar, eu não fiz um exame para confirmar, mas todos os sintomas confirmam, fiquei com ele no mesmo local onde foi feito o procedimento há dois dias, lugar sujo, com aparelhos sem condições de uso e empoeirados, quebrados etc.
Portanto, vocês que têm animais, quando fizer algum procedimento no seu animal, vá conhecer o local em que será feito, esteja presente o esperando (eu estava).
Eu pontuei todos os erros para a veterinária que o atendeu falei com ela com uma calma absurda, a pessoa de um lado ele no meio, e a pessoa não contestou minhas colocações pois sabia que o lugar era inóspito, de certa maneira ela não teve culpa, não é dona do lugar, e não foi ela que fez o procedimento, ela foi a anestesista, apesar de ser a veterinária dele. No dia fez tudo que pode para salvá-lo, porém, uma profissional da saúde responsável não trabalha em um lugar como aquele, na frente tudo bonito, atrás tudo podre.
Nos últimos anos tenho estudado física quântica e neurociências, (enquanto ele ficava no meu colo).
A gente estuda para transformar-se ser um ser consciente, então, partindo desse princípio nada no Universo acontece por acaso, quero acreditar, que ele escolheu viver esse período comigo para me restaurar, e de alguma maneira eu também sabia. Por isso tomei aquela decisão crucial quando mudamos e depois vivemos uma nova fase por três anos e meio, fomos imensamente felizes e a luz do seu olhar cristalino como uma pura água marinha iluminará meu coração e minha alma para sempre.
Uma hora dessas estaremos em uma realidade paralela conscientes de quem somos, e a família estará reunida novamente. Aliás, já estamos no aqui agora.
Gratidão, Júpiter, se existe anjos, você foi o mais amoroso, você foi o único que não teve nome de Arcanjo, pois eu não acreditava mais neles.
Então, escolhi Júpiter o maior planeta do nosso sistema solar e seu brilho é minha paz e minha serenidade.
Mande lembranças para a Juma, Juca, Uriel, Miguel Arcanjo, Esperança e Antuak, olha que linda família você já tem. Amo imensamente todos vocês.
Cada um de vocês fez uma mudança em minha vida, e você é o 9º, se foi no dia 27 (2+7=9), estou escrevendo esse texto dia 29 ( 2+9=11) e você se foi na hora mágica 11:11 se eu tivesse dúvidas que você foi um grande mensageiro, esses símbolos numéricos confirmariam.
Até qualquer dia, meu “moleque da bagunça”
Minha gratidão especial a minha amiga Lidu Maia que foi o braço forte em minha vida, tem me ajudado de todas as maneiras, desde que me mudei, e em especial com a doença do Júpiter, mesmo a milhares de quilômetros, gratidão eterna Lidu, por ter segurado em minhas mãos me dando fé e esperança.
Minha gratidão também ao meu vizinho Luís que foi comigo para enterrá-lo, os outros eu tive fazer isso sozinha, gratidão Luis, nunca vou me esquecer disso e gratidão a toda sua família que esteve torcendo e me ajudando para vencer essa batalha.
Gratidão Lê, por dispor do seu escasso tempo para levá-lo ao veterinário, sempre amorosamente.
+27-07-2023
Recordações
Primeira foto alguns minutos após o resgate
Eu te amo meu irmão
Esperando eu abrir a porta para irem para o quintal
Yin e Yang
Um gato entre livros
Passeando pela sabedoria
Júpiter, o intelectual
Vendo o mundo do alto da sua sabedoria
Ele tinha muito medo de estranhos ficava escondido atrás dos livros então criei um "esconderijo secreto" para ele se proteger dos humanos.
O mais belo olhar, cheio de amor e companheirismo.
Família reunida na varanda
Família