MIGUEL ARCANJO, 365
DIAS...
Hoje faz 365 dias que você
partiu, estava cuidando da Esperança e pensando: falamos faz um ano, faz tantos
anos, mas na verdade não é um ano são 365 dias que nosso coração sente a
alegria ou a tristeza dos dias vividos, acho que falamos um ano para não ver a
dimensão do tempo, em nossa memória 1 ano é apenas um, nesse 1 está a dor ou a
alegria de 365 dias, nem vou falar nas horas, minutos e segundos.
Quando nosso coração ama,
quando nossa alma anseia, ela conta os dias, horas e minutos.
Assim, foi nesses 365
dias, não teve um dia que não me lembrasse de você, “meu malelo”, se eu contar
as horas e os minutos não saberei calcular, muitas vezes me lembrei de você
sorrindo, outras vezes chorando, outras vezes sonhando, sonhando que haja um
lugar nesse imenso Cosmos onde o sofrimento não exista mais, que haja um lugar
onde todos os animais vivam saudáveis, amados e que um dia possamos nos reencontrar
e reviver esse amor que o tempo jamais apagará.
Foi muito difícil quando a
Juma se foi, ela foi a primeira a partir, depois foi a Uriel, depois o Juca,
mas a partida do Miguel foi a mais complexa e dolorida para eu administrar em
meu coração, fico pensando o porquê, talvez pelo sofrimento atroz que passou,
ou talvez por ter sido o último, ou talvez por ter renascido no início da
doença, foram quase quatro anos de uma partilha quase humana, muitas vezes não
era um gato era uma “pessoa”, eu conversava com ele e ele me entendia, ele me
poupava, não sei explicar, mas passou pela minha vida dois gatos “gente” Juma e
Miguel.
Não sofri menos quando os
outros partiram, quando a Uriel se foi fiquei doente, em quinze dias meus
cabelos ficaram brancos, segundo um médico foi por causa do choque, afinal ela
se foi em uma semana, também em grande sofrimento.
Quando o Juca se foi, emagreci
muito, pois não comia, não dormia, o alimentava várias vezes ao dia, por dois
anos ele necessitou de atenção especial, ainda mais que os outros.
Mas a partida do Miguel me
virou pelo avesso, o que tinha como verdade não me parece mais verdade, as
crenças tomaram lugar as dúvidas e muitas vezes a certeza de que estamos sós
neste imenso Cosmos, por nossa conta, não temos a quem recorrer, se algum dia
tivemos “alguém”, esse alguém se cansou de nós e partiu.
Talvez essas dúvidas e
descrenças sejam por vê-lo sofrer, por eu implorar para que não o deixassem
sofrer, eu o entreguei para não vê-lo sofrer, mas fizeram ouvidos moucos e ele
chorava e eu chorava, mas mesmo chorando ele queria viver, tinha uma garra pela
vida que nunca vi em nenhum de seus irmãos.
A eutanásia seria a
solução? Não sei, pois sou contra a pena de morte para o maior marginal que
exista na face da Terra, como sempre digo, no amor e na dor somos todos iguais,
como eu poderia mandar matar um
grande amor?, um grande amor que queria viver, que ao ser acariciado ainda
ronronava, eu não podia fazer isso, seria assassinato, se ele estivesse
inconsciente e sem estímulo eu até poderia pensar no assunto, mas não VIVO e
consciente.
Ouço casos de pessoas que
veem seus animais irem para a “morte”, e eles choram, eles pedem para viver,
eles sabem que serão mortos, eu não podia, eu não posso fazer isso com nenhum
deles, enquanto estiver com estímulos e consciente. Não critico quem faz,
porém, eu não posso, eu não teria paz.
Malelo, espero que por ai
seja um lugar de paz, mesmo com todas minhas dúvidas ainda me resta essa
esperança de que um dia vou revê-los, e que vocês estão ai me esperando,
felizes e saudáveis.
“O amor calcula as horas por meses, e
os dias por anos; e cada pequena ausência é uma eternidade.”
John Dryden
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