ANTUAK IN MEMORIAM
Madrugada de lua
cheia, a lua brilhava intensamente no firmamento, enquanto na Terra a mais bela
e brilhante estrela se apagava, um olhar que outrora brilhou com o tom mais
lindo e delicado de um imenso céu azul.
Pela manhã ainda
deitada no chão ao seu lado, lhe falei de todo meu amor, mas que não queria que
sofresse mais, que estava livre para partir, que eu daria qualquer coisa para
que sua saúde fosse restaurada eu sabia que seria quase impossível, mas sempre temos
esperança.
Ele me olhou levantou
levemente o corpo e caiu na cama.
O embrulhei em um
cobertor e caminhei pelo quintal conversando com ele, lhe contei meus sonhos
mais profundos, como queria poder tê-lo visto correndo pelo quintal livre e
feliz juntamente com seus irmãos.
Com ele ainda no colo
sentei-me na varanda e fiquei relembrando o primeiro dia que os vi, das
incertezas se eles iriam ter um bom lar com amor e segurança.
Estava com um mês de
vida um dia cheguei no quartinho ele estava encolhidinho em um canto, achei que
não ia sobreviver, tinha um problema nos olhos que mesmo tentando tudo não
sarava, entrei em desespero da possibilidade de vê-lo partir, mas cadê dinheiro
para ajuda-lo, saí correndo atrás de um veterinário, como pagar? Depois eu vejo
agora ele precisava de tratamento, e ele teve, foram dias de angústia e medo,
eu olhava para os lindos e límpidos olhos azuis do Raphael e sonhava com os
olhos do Antuak tão lindos e penetrantes quanto os do irmão.
E meus sonhos
realizaram-se, ele tinha o olhar mais encantador e brilhante de que todos os
gatos que tive.
Porém, hoje essa luz
se apagou na Terra, mas vai permanecer brilhando em meu coração, em meu
pensamento e na minh’alma.
Neste dia final
passamos um dia relativamente calmo, toda hora ia virá-lo para não ficar muito
tempo na mesma posição, conversava com ele, estava imóvel, o corpo não se movia
parecia uma boneca de pano tinha que pegá-lo com cuidado, parecia que não tinha
ossos.
Mas ao segurar em
suas patinhas, ele abria as unhas e segurava meus dedos, estava consciente o
tempo todo, quando lhe fazia carinho levantava a cabecinha para eu coçar seu
pescoço e a testa, ele sempre adorou isso, quando acariciava sua testa fechava
os olhinhos delicadamente, em geral estavam sempre abertos nos últimos dois
dias.
No dia anterior ainda
se alimentou através de uma sonda, porém, vomitou tudo com sangue horas depois,
foram momentos de desespero incertezas e certeza que o fim estava próximo.
Durante todos esses
dias dormimos no chão, forrava o quarto com edredons para que não tomasse
friagem, pois saia cambaleando para tentar tomar água, a tigela de água era seu
lugar preferido enquanto conseguiu andar ficava com a cabecinha recostada nela
e a carinha dentro d’agua e com isso ia lambendo a água aos poucos.
Desde ontem não andou
mais, por isso arrumei minha cama para nós, fiz uma “cama” mais alta para ele e
deitei-me ao seu lado, estávamos cansados, são cinco dias sem dormir.
Deitei-me e fiquei
conversando com ele, e ele segurava meus dedos com “força”, lhe contei uma
porção de histórias, ou melhor, relembramos histórias então adormeci.
Iria levantar às 2h
para lhe dar injeção, mas ele decidiu partir um pouco antes, e se foi ás
1h57minutos.
Estava cochilando de
repente me sentei e passei a mão nele e vi que estava prestes a partir, quando
o olhei começou a fazer um som estranho (nesses dois dias esteve em silêncio
absoluto) percebi que a hora havia chegado, segurei suas patas e fui falando quase
inaudível, vai querido, vai em paz, eu amo muito você e finalmente ele se foi
em paz.
O fiquei olhando como
se estivesse vendo um filme, sabia que a hora estava próxima, mas sempre
achamos que podemos mudar as trapaças do destino. Amanhã (hoje) chegaria um
remédio que traria um pouco de esperança, ele precisava fazer xixi, se fizesse
teria uma chance.
Toda hora ia ver se
havia feito e aproveitava para mudá-lo de posição. Mas não deu tempo, o tempo
do tempo é muito diferente do nosso tempo.
O Antuak nunca havia
saído do local onde viveu, quando o trouxe comigo para ser cuidado mesmo
cambaleando e fraco andou pelo quintal miando, cheirando, “sentindo” tudo à sua
volta, triste pensar que nunca pode correr por um quintal livre da dor e do
sofrimento.
Resta-me um consolo,
ao menos por meros minutos viveu livre em um quintal, sonho de seis anos de
“prisão”.
Seis anos, jovem
demais, estou sempre dizendo que vivem pouco, e vivem, mas o Antuak superou
todos seus irmãos, viveu menos da metade dos seus irmãos que partiram.
Eu queria entender a
“regra” do vir e ir deste mundo, o Antuak e seus irmãos chegaram a esse mundo
de maneira cruel, chegaram em minha vida pelas vias do abandono.
Naquela manhã de
setembro deparei-me com uma mãezinha e seus quatro filhos jogados dentro de uma
caixa como lixo, ao seu olhar cruzar com o meu pedindo socorro, meu coração
ouviu o chamado silencioso daqueles imensos e tristes olhos azuis, passei por
cima de todas as dificuldades e os acolhi.
Foram momentos
difíceis de medo, insegurança, mas de determinação, e nesses dias esses
sentimentos afloraram quando eu olhava para o frágil corpo do Antuak, sem
forças, olhar parado e distante e eu dizia: - você vai sarar você vai ficar
bom.
Mas o destino é
cruel, por mais que eu corresse contra o tempo para salvá-lo não consegui.
Durante esses longos
e ao mesmo tempo breves seis anos, eu sonhava de olhos abertos, e os via
brincando em um quintal felizes e em segurança, correndo atrás das borboletas,
calangos pássaros etc.
Se de fato existe algo
que “vela” por nós, gosta de brincar de esconde- esconde comigo, nunca permitiu
que eles brincassem livres em um quintal.
Em meus devaneios, o
Antuak sempre era o primeiro a sair correndo pelo quintal, pois tinha um
espirito livre, tudo para ele era motivo de brincadeiras, uma pena o fazia
pular e brincar horas com uma alegria cativante, eu o olhava extasiada.
Certa vez me disseram
que eu gostava mais dele que dos outros, quem acha que se pode amar mais a um
“filho” que aos outros não ama nenhum, amar vai, além disso.
Ficava às vezes mais
evidenciado por ser alegre e amoroso sabia ser irresistível. Poucas pessoas os
visitaram, porém, todos que os conheceram ficavam encantados com aquele gato
gordo, de olhar cativante e que gostava de gente.
Ah! Antuak, quantas
vezes eu sonhei em vê-los partir bem velhinhos, quantas vezes, fiquei pensando
se viveria tempo suficiente para vê-los partir, pois a literatura diz que os
siameses podem chegar a mais de vinte anos de idade, vivia calculando os anos
para ver se havia possibilidade de estar aqui para esse triste momento, não
imaginava que você partiria tão jovem e que deixaria mais essa dor em meu
coração tão precocemente.
Envelhecer é acumular
perdas, as materiais são transitórias as do amor e afeto são eternas.
Viver tem um preço
muito alto, temos que ver quem amamos partir e ficarmos inertes e impotentes
sem nada poder fazer.
Se existe algum lugar
além deste mundo tão confuso, tão cruel em especial com os animais e
especificamente com os gatos, espero que nesse momento você esteja correndo
livre, em um mundo onde todos os seres têm direito a viver pela única razão de
que se existe um Criador, somos todos um, não existe separação de raças, cor,
espécie ou preferências desse suposto Criador e nesse lugar todos vivem em paz
e harmonia, não há dor, abandono, maus-tratos, todos sabem que são um elo de
ligação e todos vivem no amor e na partilha e com isso a vida flui, o Universo
expande-se e todos se tornam de fato Um.
Não sei se isso
existe, já acreditei, acreditei em anjos, mestres e que um dia a vida seria
Una, hoje não tenho certeza de nada e o mais triste, me fica a sensação que
somos meras peças de um tabuleiro de acasos, não faz diferença o quanto se ame
ou o quanto seja indiferente com o sofrimento alheio ao final tudo sumirá como
uma nuvem e nada restará.
Apesar das minhas
incertezas quero continuar amando, sendo solidária, quero expandir meu coração
para acolher os abandonados pela vida, em especial os animais, amá-los,
socorrê-los não para ganhar um lugar em um céu imaginário, mas amá-los para
tornar suas vidas em um “céu” na Terra, do que vale um suposto “céu” distante
se na Terra o “inferno” é a lei para suas breves vidas.
Sejamos “anjos” e
deus para todos os animais aqui e agora.
Não pude fazer tudo
que sonhei para o Antuak, para sua mãe e irmão, porém, o pouco que pude fazer
transformei nossas vidas em um céu de verdade.
Quando estava
angustiada com a doença ou partida de seus irmãos, o Antuak se aconchegava
ainda mais em meu colo, ele nunca conheceu esses irmãos, mas sabia que eu
estava sofrendo por eles e fazia tudo para trazer paz para meu coração, então
corria, brincava e me fazia sorrir.
Vida breve, breve
dias, e agora só restam três, quando eu chegar naquele quarto daqui a pouco
sempre faltará seu olhar e jeito brejeiro e vai doer, doer, doer, meu coração
vai sangrar, mas tenho que prosseguir e continuar sonhando que posso tirar sua
mãe e seu irmão da prisão onde vivem, você não consegui.
Eu gostaria muito de
acreditar que vamos nos reencontrar e como aquela fábula da “Ponte do
arco-íris”, você e seus irmãos, Juma, Uriel, Juca Raphael, Miguel Arcanjo e a
Esperança estarão ao pé da montanha me esperando e nós correremos livres sobre
a grama verde e leve esse encontro será eterno, sem separações, sem dor e sem
sofrimento.
Desculpe-me não ter
podido cumprir o que lhes prometi.
A primeira pessoa que
conversei no dia, falei que era questão de horas para ele partir, porém,
aguentou firme o dia todo e de madrugada se foi se foi no mesmo mês da Uriel.
O Antuak tinha a
personalidade muito parecida com a da Uriel e no tempo em que ainda acreditava
em “contos de fadas” eu me perguntava se não era ela que havia voltado para
mim, ás vezes perguntava para ele, você é a Uriel? Ele me olhava com seus
penetrantes olhos azuis como que respondesse que diferença faz? Estou aqui,
isso basta.
E por ironia do
destino sua doença e partida foi tão rápida como a dela, ele até deu sinais que
podia estar com problemas por estar emagrecendo, porém, ela não deu tempo para
nada.
O coração de quem ama
percebe o perigo antes que ele aconteça quem não ama passa indiferente.
Por isso quando
começou a emagrecer o levei ao veterinário, antes que a situação se
complicasse, pouco adiantou, a doença e a partida do Antuak aconteceram coisas
estranhas, encontramos veterinário indiferente que poderia ter mudado a
história dele, encontramos veterinária “terrorista” que tentou colocar terror
em minha alma, mas estávamos sendo ajudados por uma veterinária que ama animais
e se preocupa com o paciente e o tutor.
Meu agradecimento
especial a Dra. Andressa Mello que esteve presente mesmo à distancia me
auxiliando profissionalmente e amorosamente, ontem ficou à minha “disposição”
para tornar nossa vida menos triste. Gratidão Dê, você está sempre presente nas
minhas perdas, me ajuda como excelente profissional que é e como amiga que
cuidou dos demais que se foram por compaixão e amor. Sempre serei eternamente
grata a você.
A Dra Andressa Mello
assumiu o tratamento dele quando ainda havia uma tênue esperança de cura,
tínhamos essa esperança, era jovem e forte, mas o destino é cruel até mesmo com
os jovens e fortes.
Gratidão a Dra. Paula
Ramos que ao ver meu desespero no Facebook também nos acompanhou
carinhosamente.
Agradeço a minha
amiga de todas as horas Cristiana Basan ( Procura-se Raja), já choramos tantas
partidas, mas também já exultamos de alegria a cada conquista de cura em nossos
filhos de 4 patas.
Gratidão a Sissi
(MariaCecilia Melges de Carvalho) por estar comigo nesses dias de dor, mesmo á
distância.
Gratidão a Cristina
Altheia Bortoli que também esteve presente diariamente mesmo à distância.
Gratidão a Cidinha
Morgão que abria todas as manhãs a janela para entrar ar e eles tomarem sol, eu
e a Cidinha somos os humanos que ele mais viu em sua curta vidinha.
Agradeço a Vânia
Marques pela ajuda e preocupação conosco, gratidão Vânia.
Agradeço a todos os
amigos do Facebook que nos acompanharam e nos ajudaram orando, vibrando,
mandando energias positivas e com isso tornaram nossa dor mais leve, nos
fazendo sentir que não estávamos sós, em um mundo cercado de individualismo.
E finalmente gratidão
ao Guilherme Franco que colocou telas na janela para eles viverem em segurança
e nos ajudou financeiramente por muito tempo. Gratidão.
Acabei de enterrá-lo
ás 18h30 embaixo daquela frondosa paineira onde estão o Miguel Arcanjo e a Esperança,
está juntinho do Miguel.
*07-09-2011
+01-02-2018
História do resgate do Antuak e sua família
“A morte nada mais é que uma despedida
inesperada que não temos o poder de contestar ou evitar.”
Autor desconhecido
Últimos dias
Última foto já na madrugada do dia 01-02-2018
Último dia na Terra 31-01-2018
Pela manhã ainda com a sonda 31-01-2018
Com a sonda para alimentar-se 30-01-2018
Pela Manhã 31-01-2018
Sem forças nem para levantar a cabeça 31-01-2018
Ficava assim recostado na vasilha tomando água 30-01-2018
Olhos sempre abertos 29-01-2018
A tigela de água nos últimos dias era seu "porto seguro"
Ainda prestava atenção em tudo, antes do soro 29-01-2018
Ainda conseguia caminhar cambaleando 29-01-2018
Tomando soro na clínica 29-01-2018
Ainda no quartinho, começando a perder as forças 28-01-2018
Em minha cama ainda se sustentando sentado 28-01-2018
Comendo patê, eu dando na boca 26-01-2018
|
Emagrecimento acelerando 20-01-2018, já tinha ido ao veterinário em 19-12-2017 e também passado por retorno em 12-01-2018 |
Aparentemente bem, comendo graminha 20-01-2018
Comia, brincava não aparentava problema algum 20-01-2018
Parecia bem, só o emagrecimento preocupava 20-01-2018
07-01-2018
24-12-2017
Comendo com apetite 24-12-2017
De olho nos pássaros 19--12-2017
11-12-2017
26-10-2017
O irresistível gato gordo 26-10-2017
Família reunida no aniversário de 6 anos do Antuak e Raphael 07-09-2017
De olho no calango no muro 07-09-2017
Antuak e Raphael 05-09-2017
Uma bela família, meus filhos do coração 28-05-2017
Em plena saúde 27-06-2017
Antuak e Raphael 16-06-2016
"falando" com os pássaros 23-07-2015
Deitado em meu colo 29-05-2015
12-12-2014
Família reunida, de olhos nas pombas 18-01-2013
17-08-2012
Completando 1 ano de idade 07-09-2012
Me esperando na janela 02-01-2016
Antuak e Raphael adolescentes e Lysnel no meio 28-01-2012
Antuak e Raphael, minha foto preferida 28-01-2012
Antuak e Raphael dormindo após a castração 17-04-2012
Antuak acordando após a castração 17-04-2012
Antuak, um gato entre livros 21-08-2012
21-08-2012
Minha foto preferida dele, Antuak com 4 meses 08-01-2012
Antuak deitado e Raphael 01-12-2011
Antuak e mamãe Lysnel 02-10-2011
Antuak, Raphael e Lis 27-10-2011
Apenas um bebê 16-10-2011
Dormindo em meu colo 13-10-2011
Antuak com os olhinhos ainda dependendo de muitos cuidados 06-10-2011
24-09-2011
Antuak, Raphael, Josie e Lis hora da mamada 24-09-2011
Vivia com os olhinhos fechados 24-09-2011
Com os irmãos Josie, Lis e Raphael 24-09-2011
Antuak, Raphael e Josie 24-09-2011
Criado dentro de uma livraria, dormia sobre os livros 29-10-2011
Hora do sono intelectual 29-10-2011
22-09-2011
Ainda na rua, Lysnel e seus filhos 07-09-2011
Ainda na rua 07-09-2011
Ainda na rua 07-09-2011, uma mãe heroína como centenas de mães do reino animal e mesmo humano.
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Ainda na rua 07-09-2011 |
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Antuak e Raphael, eles devem ter nascido na madrugada de 7 de setembro de 2011, pois ainda havia placenta fresca na caixa, os jogaram na minha porta pois sabiam que eu iria acolhê-los, mas eu tinha tudo para não fazer isso, pois não tinha onde abrigá-los. 07-09-2011 |