O Miguel foi ao veterinário pela manhã, antes ele e a Esperança foram fazer o exame de rotina de função renal, foi passando muito mal pelo caminho e na hora do exame até a veterinária estava assustada, inclusive a veterinária que colheu o sangue mandou que corrêssemos, para a consulta que já estava agendada.
Estava em crise, sem ar, em um sofrimento atroz, a veterinária dele o atendeu imediatamente, além do tratamento convencional foi fazendo outros tratamentos naturais.
Ele só piorava, parecia que os pulmões iam pular para fora daquele corpo frágil.
Que desespero, fiquei só com ele em uma sala, dando gotinhas a cada cinco minutos. De repente começou a babar muito. De vez em quando a veterinária vinha vê-lo com mais alguma coisa para socorrê-lo.
Ela ia fazer punção, porém, temia que não agüentasse, RX seria o ideal para ver como estava, em sábado era pouco provável que conseguisse já era mais de meio dia, ela ligou no laboratório e lá fomos nós, sou muito conhecida nesse laboratório, pois vou lá todos os meses com eles.
Durante todo esse tempo ele estava muito mal, piorou ainda mais, dava para ver no rosto das veterinárias (desde o exame de sangue) “escrito” não vai resistir, inclusive a veterinária que colheu sangue veio ajudar na hora do RX, estava difícil posicioná-lo para o exame.
Havia liquido no pulmão direito, voltamos para a clínica, a veterinária mandou que fossemos rápido enquanto isso ela ligaria para a veterinária dele para passar o laudo, levei só as imagens.
Quando chegamos lá estava pior ainda agora babava demais era assustador.
Fiquei em uma sala com ele, enquanto a veterinária terminava um atendimento, de repente ele deu um “grito”, estava em agonia eu só chorava, e pedia que ele não sofresse mais, chorei tanto que já não tinha mais pedidos a fazer.
De repente comecei a respirar fundo e me veio uma serenidade tão incrível, e ai o entreguei verdadeiramente. Nas três crises quase seguidas eu havia falado para ele ir embora, que não sofresse mais, quando havia dito isso estava angustiada demais, para ter “validade” de fato.
Agora eu só queria acabar com aquele sofrimento, conversei com ele calmamente, contei quando o encontrei, falei tanta coisa, só queria que ele fosse embora, falei dos irmãos que já tinham ido embora, ele adorava o Juca, falei que o Juca o estava esperando, de vez em quando ele olhava para cima como se estivesse vendo alguém.
A veterinária chegou olhou o RX e resolveu fazer a punção, agora tinha o lugar exato, mais o liquido estava muito grosso e não saiu nada.
Ela deu mais remédios, ficamos sós novamente, a paz e o silêncio reinavam no ambiente, eu só ouvia sua respiração forte, ele deitou a cabecinha em meu braço e ficamos ali, eu não queria um milagre, não pedia mais nada, eu apenas o queria ver livre.
Ficamos um tempão assim, ele melhorou um pouquinho e viemos embora com uma ”sacola” de remédios. No caminho teve outra crise, dessa vez bem menor.
Cheguei em casa preparada para nos despedir a qualquer momento, não queria e não quero o ver assim.
Eu não “aceito” a eutanásia, não, enquanto eles ainda tiverem estímulos, quando não tiver nenhum estímulo, ai vou pensar no assunto. Mas durante todo o tempo eu o fiquei afagando e ele balançava o rabinho e erguia a cabeça para eu acariciá-lo.
Já em casa ao colocá-lo na cama. Ele queria ir para o chão, fiz tudo para impedir, o chão é muito frio, mais não teve jeito.
Quando o coloquei no chão saiu cambaleando, queria andar, lentamente, porém, se esforçava em andar, depois se deitou embaixo da cama, me deitei ao seu lado a respiração ainda estava muito forte, não estava abrindo a boca como se estivesse sem ar.
Acreditem, a pouco tomou água sozinho duas vezes, fazia vários dias que não tomava água sozinho, e agora enquanto escrevo está sentado no quintal muito ofegante, não quer saber de deitar, quer aproveitar cada segundo de sua vida contemplando a natureza.
Estou perplexa, aconteceram tantas coisas nessas últimas horas no veterinário até chegar aqui, que ainda não sei avaliar o que está acontecendo, não estou nem conseguindo agradecer, agradecer, agradecer como sempre faço, me sinto anestesiada.
Não sei como será a nossa noite, nem como será o amanhã, porém, estou em paz, e acredito que agora de fato ele está entregue.
Ele está tomando remédios toda hora, mais agora não há mais ansiedade, medo ou angustia, apenas cuidados amorosos.
Ele está vivo, e o melhor estamos juntos.
O amanhã não nos pertence, vamos viver o agora.
Gratidão a todos que tem orado por ele, continuem, ele continua necessitando muito.
Meu agradecimento especial a sua veterinária Drª Otília, que além de competente é uma pessoa amorosa, solidaria e de uma compaixão imensa.
Gratidão Drª Otília ele ainda está aqui por seu carinho e respeito por nós.
Eu não ia postar esse desabafo, alguns criticam, resolvi fazê-lo, pois talvez essa paz estranha permaneça e possamos vencer mais essa.
Gratidão!
Amor e Luz
Miguel Arcanjo e Marlene
Obs: acabou de ir ao prato de ração e comeu um pouco.
Essa foto foi tirada na clínica, assim que ele ficava com a boca aberta. depois foi enfraquecendo e se deitou.